quinta-feira, 22 de abril de 2010

“Performance: Lia do Itamaracá”

Sonia Teller



“Essa ciranda quem me deu foi Lia que mora na Ilha de Itamaracá”

O país conhece o refrão que fez de Lia do Itamaracá uma lenda viva. Carlos Marchi em seu artigo no jornal “O Estado de São Paulo” assim descreve:

“Majestosa, porte de rainha nagô, quase 1m80, sorriso de enormes dentes alvos, brincos, cabelos dreadlock, toda de branco − lá vem Lia do alto de sua vaidade comandar a guerra de todo sábado à noite. E vem trazendo na mão o símbolo de sua resistência natural, o microfone, onde despeja a voz poderosa para desfiar as cirandas da Ilha de Itamaracá que ela fez famosa”

Lia galga sucesso e fama instalando-se na performance como ato libertário e foge das regulamentações sociais habituais do poder que, desde o século XVII, instaura, na representação e consequentemente no teatro político, práticas de controle da população e práticas para conter as manifestações pagãs.

Todavia, Foucault já enfatizava que “onde há poder, há resistência”. E aqui encontramos Lia, cirandeira que se aproxima do que Artaud almejou para o Teatro da Crueldade, incitando o fim da representação e a quebra da teatralidade ocidental.

Ciranda é a dança, cujo tempo é o da pulsação e convívio dos corpos enfatizando os anseios de Lia: a destruição das formas espaço–temporais empregadas pelo biopoder. Pelas concepções cênicas que divulga, liberta o teatro do órgão, rompendo com as diferenças autor–texto, diretor–ator, espetáculo–espectador. Todos, mestre cirandeira e praticantes são, ao mesmo tempo, partícipes do espetáculo. Arte−sem−obra cujo centro é o próprio ator−espectador, que pela ação eficaz liberta o teatro do órgão, órgão de registro, de palavras, de interpretação, do ator.



Palavras chaves: ciranda, representação, teatro da crueldade

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