quinta-feira, 29 de abril de 2010

Elis Regina em “O Fino da Bossa”: performance e críticas


Rafaela Lunardi

A comunicação terá o intuito de problematizar a performance da apresentadora/ cantora Elis Regina no programa semanal “O Fino da Bossa”, no período em que esteve no ar da TV Record, nos anos de 1965 a 1967. O objetivo será perceber como Elis impulsionou sua carreira, promovendo modificações de performance (estilo de cantar, gestual, visual) e repertório até meados da década de 1970, atendendo à demanda da MPB no período e, de certa forma, respondendo às críticas a ela dirigidas, de intelectuais, como José Ramos Tinhorão, e artistas vanguardistas, a exemplo de Augusto de Campos, Julio Medaglia e Caetano Veloso, em “O Fino da Bossa”. Com apenas vinte anos de idade, Elis já era considerada uma estrela por vencer o “I Festival de MPB” da TV Excelsior, com a música “Arrastão” (Edu Lobo/ Vinícius de Moraes), e fora convidada a comandar, ao lado de Jair Rodrigues, “O Fino da Bossa”, que se propunha a unir tradição e modernidade musical e se tornara, em poucos meses, líder de audiência da TV. O sucesso de “O Fino da Bossa” em rede nacional (ainda não tão ampla, dada toda sua incipiência), bem como de seus apresentadores, era notável nos periódicos da época, que se dedicavam a vangloriar a qualidade do programa e também de publicar fatos/ fotos/ episódios/ situações, muitas vezes indiscretos da vida pessoal dos artistas. Ao receber convidados que eram tidos como nomes importantes ou grandes “promessas” da música popular brasileira, como Dorival Caymmi, João Gilberto, Adoniran Barbosa, Cyro Monteiro, Gilberto Gil, Edu Lobo, entre outros, Elis e Jair realizavam entrevistas, brincavam e cantavam juntos com os artistas, dando um certo clima de “festa” e euforia ao programa. Atendendo às requisições de uma performance televisual, que deveria ser mais dinâmica que em palco, a fim de fixar a atenção do telespectador, os apresentadores abusavam de ornamentos expressivos e de potência de voz ao cantar, bem como dançavam, sambavam e, no caso de Jair, até plantava bananeiras em alguns números, diante da platéia. Devido à perda das gravações originais do programa, somente podemos perceber essas performances no áudio resgatado por Zuza Homem de Mello, na trilogia “Elis no Fino da Bossa”, pelos três LPs gravados ao vivo por Elis e Jair, “Dois na Bossa”, por textos, artigos e depoimentos da época e por fotos. “O Fino da Bossa”, porém, foi perdendo prestígio junto ao público, a partir de 1966, dado o sucesso do programa “Jovem Guarda”, de Erasmo e Roberto Carlos e Wanderléa, também da TV Record. Entre tantas explicações para a perda de audiência de “O Fino da Bossa”, encontram-se as férias tiradas por Elis, de janeiro a março de 1966, deixando somente Jair como apresentador e promovendo o descaso do telespectador pelo programa que, de forma geral, era “animado” pela presença da estrela Elis. Os periódicos da época deixavam clara a grande expectativa com relação ao retorno da apresentadora ao “O Fino”. Percebendo os problemas pelos quais passava o programa, a dupla Miéli & Bôscoli foi convidada a produzir o “O Fino” e algumas mudanças foram proporcionadas para angariar o público perdido: Elis mudou o seu visual, tornando-se mais “juvenil” e moderna. Entretanto, os supostos “exageros” nas performances provocaram críticas a Elis, acusando-a de “promover o subdesenvolvimento da MPB”, de ser uma cantora “arcaica”, ou que seu gestual era “exagerado”, entre outras. Assim, com audiência em baixa e críticas crescentes, o programa saiu do ar em 1967. A carreira de Elis, a partir desses episódios, foi marcada por transformações na performance em palco, em apresentações de estúdios, em entrevistas e em gravações, sem falar em freqüentes mudanças de repertório, buscando adequar-se aos padrões de gosto, repertório e performance articulados pela “moderna” música popular brasileira (MPB). Este processo passou por diversas fases, plenamente reconhecíveis na análise da carreira da cantora situada entre 1968 e 1976, a qual apresentaremos de forma sintética nesta comunicação.

Palavras-chave: Elis Regina; O Fino da Bossa; MPB; Performance

Nenhum comentário:

Postar um comentário